sábado, 31 de dezembro de 2011

A galinha que botava batatas


Editora: Fundação Dorina Nowill para Cegos
Categoria: Infantojuvenil
ISBN:
1ª edição: 2011
Encadernação: Brochura
Formato: 21 x 21 32 págs.
Ilustrações: Paulo Branco

• Livro publicado através da parceria entre a AEILIJ e a Fundação Dorina Nowill para Cegos. Edição em braille e com fonte ampliada.
• Com versão em áudio.

Miranda é chamada no galinheiro para desvendar um mistério: a galinha Josefina não botou um ovo e sim uma batata. Com sua mala de detetive, a menina começa a investigação, faz anotações, segue pistas até chegar à solução do enigma.

O Tango da Vida


Editora: Paco Editorial (1a ed.) /
Celacanto (2a ed.)
Categoria: Contos
ISBN: 978-85-8148-000-8
1ª edição: 2011
Encadernação: Brochura Formato: 14 x 21 80 págs.

Ao adentrar O Tango da Vida, de Simone Pedersen, percebemos estar diante de algo que de fato é sintetizado pelo tango: ao percorrer suas páginas, deparamo-nos com agressividade, tristeza, drama, paixão. Como no tango, como na vida.

A cronista madura, que extrai seus instantâneos da realidade circundante, colhe seus exemplos de situações do cotidiano, que conduzem a algo maior. Cada personagem, a seu modo, encarna um papel fundamental no drama da existência humana.

Um elemento que perpassa os textos consiste na busca de uma felicidade que se sabe ainda mais intangível, visto que não se afigura como mera oposição da infelicidade. Como buscar aquilo que se desconhece? Édipos em meio ao mundo, seres que nascem “sem permissão”, sem nada que lhes legitime o direito de existir. Mas que resistem, pois sempre haverá a música redentora, a que salva, a arte libertando e abrindo perspectivas. Árias na aridez. Como no tango, como na vida.

Tatiana Alves
Doutora em Literatura

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

ANUNCIARAM E GARANTIRAM - Crônica de fim de ano. Ou do fim do mundo.


Autor: Maurício Veneza

Mesmo que vocês não conheçam a interpretação original da Carmen Miranda, devem se lembrar, graças a regravações recentes, de uma música do Assis Valente que começava assim:

“Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar”

A letra falava de alguém que, diante de uma destas profecias sobre o iminente fim do mundo, mandava as convenções sociais às favas (expressão da época). Caía na gandaia (outra expressão antiga) e depois, não tendo se concretizado o vaticínio, tinha que arcar com as consequências:

“Beijei na boca de quem não devia
peguei na mão de quem não conhecia
dancei um samba em traje de maiô
e o tal do mundo não se acabou.”

Pois é, tenho boas e más notícias. A boa é que 2012 está às nossas portas; a má é que em 2012 o mundo vai se acabar. Pelo menos é o que afirmam alguns especialistas em interpretação do calendário maia (temos especialistas para tudo hoje em dia). Uns, como o cineasta Roland Emmerich, levaram a sério. Se ele não acreditasse que o mundo vai se acabar em 2012 – e com ele os críticos – não teria tido a coragem de levar às telas aquele filmeco sobre o tema. Outros, como eu, deram risada. Imaginei uma daquelas belas moças do tempo do noticiário, apontando para um mapa-múndi e dizendo, em voz pausada:

“Tempo instável, sujeito a chuvas de meteoros no fim do período, enchentes de lava e tsunamis...”

Posso apostar que não vai acontecer (se eu perder a aposta, não deixem de me cobrar!). Em minha longa existência ouvi várias vezes o anúncio do fim do mundo. Neste mesmo ano de 2011, pelo que disseram, o mundo deveria ter acabado umas duas ou três vezes. Em outubro, espalharam até outdoors, especificando com exatidão a data do evento. Só faltava  o destaque: “única apresentação”. Suponho que tanta divulgação fosse para evitar que alguém, por esquecimento, descuido ou falta de espaço na agenda, deixasse de comparecer ao espetáculo.

Fico pensando como estes dedicados profissionais do alarmismo têm a cara-de-pau de sair à rua no dia seguinte às suas previsões sem um saco de papel na cabeça. Talvez disponham de uma eficiente assessoria de imprensa, capaz de emitir um comunicado salvador, preparado de antemão, mais ou menos assim:

“Lamentamos informar que, por motivos de força maior, o fim do mundo foi transferido para data ainda não definida, a qual, assim que possível, será comunicada a todos os interessados, etc., etc.” e terminando por “Contamos com a sua compreensão”.

Talvez, como nos livros do Douglas Adams, o  mundo já tenha acabado, só que ninguém notou. O certo  é que nunca faltarão pessoas que, ao ver os preços no mercado ou ler a última fofoca sobre os famosos da TV, porão a mão na cabeça e dirão: “É o fim do mundo!”.

O bom é que também não faltam pessoinhas como o Pedro, meu primeiro neto, que chegou às vésperas do Natal. Para estas, o mundo está apenas começando.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

O Rei Tempo


Que peso é esse nas minhas costas, senão os anos que foram me curvando enquanto eu me curvava perante sua figura majestosa?

O tempo é um bom rei. No começo se impõe com vigor, nos faz correr para alcançá-lo, nos ensina a mensurá-lo em aniversários, efemérides e despedidas. Rege nossos caminhos, nos obriga a tomar decisões quando jovens que afetarão todo o nosso futuro, sem termos a menor noção do que nos aguarda.

Contudo, quando amansamos, ele passa a mão em nossos cabelos brancos e nos mostra que ainda podemos desfrutá-lo. Aprendemos o milagre do pão. Multiplicamos nossos momentos bons. Descobrimos o mistério da felicidade, ou ao menos, como evitar muitos momentos infelizes.

Priorizamos as verdades sem nos importarmos se elas têm dentes navalhados. Reconhecemos o valor dos amigos. Detectamos superficialidades de longe e buscamos abrigo no conteúdo da companhia de poucos. Sonhamos, sim, nunca é tarde para sonhar! Sonhos que tem os pés nos chãos e caminham decididos pelo firmamento.

E amamos. Amamos muito mais. Amamos sem fronteiras, sem cadeados, sem fantasias. Amamos, tão profundamente, que sabemos o momento de guardar todo o nosso amor em uma pequena caixa de veludo marinho, com um lindo laço de cetim vermelho. Colocamos no fundo da gaveta, embaixo de sedas e rendas, ao lado de um sache com perfume de rosas.

Todos os dias, abrimos a gaveta ao amanhecer e da pequena caixa tiramos forças para seguir mais um dia, com o coração aquecido por lembranças embaladas em eternidades.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Ricardo de Benedictis comenta "Fragmentos e Estilhaços"


RICARDO DE BENEDICTIS

Presidente da APOLO - Academia Poçoense de Letras

Tirei maravilhosas impressões do livro "Fragmentos e Estilhaços", da escritora paulista (natural de São Caetano do Sul) - Simone Pedersen; li os poemas, todos de excelente lavra, inspirados pela alma sentimental da autora que deixa aflorar seus melhores instantes. Também li crônicas e contos alternadamente e concluo, ao encerrar a leitura do livro por inteiro, que trata-se de uma obra auto-biográfica, tantos são os assuntos da vivência da autora, explícitos de forma tão romanticamente bela.

Gostaria de dizer a você, Simone Pedersen, que muito nos honra tê-la conhecido através dos seus textos. Você é uma escritora verdadeira, na acepção da palavra. Seus textos são como pétalas de rosas a caírem à nossa frente, a cada palavra bem colocada e período descrito. Lê-los nos oferece o verdadeiro prazer da leitura, que só é possível quando estamos degustando com a mente o universo criado ao seu redor. Há muito não me deparo com obra de tal valor literário. E eu leio, pelo menos um livro por semana, há anos! Daí porque, quero expressar-lhe o que de melhor pude perceber do seu magnífico estilo e do tratamento tão próprio da nossa vernácula. Textos curtos ou não muito longos que nos transportam para onde você estava quando os criou. Isso é o verdadeiro papel do escritor: fazer o leitor viver e sonhar em sua obra, durante e depois da leitura, em reflexões e voos encantados.

Também faço menção de elogios ao ilustrador Paulo Branco.Peço-lhe que passe para ele as minhas positivas impressões sobre o seu magnífico trabalho, tanto no livro em tela, quanto nos livros de Poesia com ilustrações e desenhos muito interessantes e criativos. 

Parabéns, querida amiga e glória a Deus por você existir.

Continue a escrever assim e em breve estará entre as estrelas da nossa rica literatura.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Mais um...


Mais um ano, novo ano, ano novo...
Mais um mistério, um suspiro, um sorriso...
Mais uma  batalha, uma ferida, uma lágrima...
Mais um início, recomeço, novo enredo...
Mais um final desconhecido no meio do nosso caminho.

Mais um ano, ano novo, novo ano...


A única certeza que tenho é que em 2012 eu farei a minha 

parte o melhor possível, mas o que acontecerá amanhã, hoje 

ainda ou nos próximos anos, tem sempre sido uma surpresa e

 seguramente acontecimentos inesperados nos abraçarão no 

próximo ano... Torço apenas que todos tenhamos mais 

acontecimentos bons...

E que a vida continue a nos surpreender!

domingo, 25 de dezembro de 2011

Premiações em 2011


Premiações:
Concurso Internacional de Literatura – União Brasileira Escritores – RJ - Menção especial para o livro de crônicas “Fronteiras” a ser lançado em 2012
VI Prêmio Arthur Bispo do Rosário – SP - crônica e poesia
Um poema em cada árvore – Instituto PSIA – Governador Valladares -  MG – poesia
Concurso Pérolas da Literatura – Guarujá – SP – conto - 1o. lugar
Mapa Cultural Paulista 2011/2012 – Vinhedo -SP – conto e crônica
Varal de Poesias da UNIFAMMA - Maringá - SP – poesia
Varal de Poesias de Nova Odessa - SP – poesia
Concurso de poesias "Amor demais" – poesia
Prêmio Cultural Landa Lopes - poesia - e-book
Concurso Literário da ACL - RS - Contos infantis - 2o. lugar

Antologias:
Editora Caki Books - contos “Trem da História”
Editora Litteris – infantil “Novas fábulas brasileiras”
Editora Abrace – poemas “Juegos Florales” – Uruguai
Prêmio SESC de Contos Infantis
Prêmio Alt fest – Festa Literária Internacional de Olinda – FLIPORTO – poesia
Prêmio Universidade Fluminense Federal de Literatura – crônica, conto e poesia
Revista Kyrial da PUC - Campinas - SP - conto

Consto como verbete na última edição do “Dicionário de Mulheres Escritoras” da historiadora e pesquisadora Hilda Hübner Flores, do Rio Grande do Sul.

Pequenos contos: horror, fantasia e poesia



SOLIDÃO

O vinho caríssimo escorre pela garganta sedenta preparando-o para a próxima degustação.
Do outro lado do bar, a moça pensa:
“- Com esse me deito, estou morrendo de solidão...”
E ele, regozija em pensamentos carnais: “Hoje me deleito, carne nova, sangue fresco!”
Horas depois, ele a deixa desacordada sob os lençóis lilases do seu quarto rosa. Antes de sair, coloca um objeto de sua antiga penteadeira – uma boneca de porcelana – aninhada em seus braços.
Entra no carro, com o sangue-tinto ainda escorrendo pelo queixo.


A NOITE, O CÉU E A MORTE

Abro a janela e percebo que a noite está zombando de mim.
Ela escondeu todas as estrelas sob sua túnica negra.
Só vejo morcegos voejando no jardim.
Irada, penso em lhe exigir que devolva os diamantes que cintilavam em minha vida. Mas me calo.
Tenho medo que  ela responda que eu não os mereço.
Tenho medo que ela mande mais morcegos.


DIVÓRCIO

Civilizadamente assinaram os papéis e se despediram do juiz.
No estacionamento, ele a avistava na calçada. “Finalmente. Estou livre.” Pensou enquanto acenava para ela.
Ela, compenetrada, aguardava os carros passarem para atravessar a rua. Quando viu uma moto, titubeou. Só decidiu atravessar quando um caminhão estava próximo demais para poder frear.
Só teve tempo de gritar o nome dele. O “Eu te amo”  ficou apenas na sua vontade.
No diário dela, o desabafo: “Ouvi-o dizer que pretende me matar. Assim poderá casar-se com aquela puta. Eu o amo demais. Não quero que ele me esqueça nunca.”


OBSESSÃO

Depois que romperam, todos os dias o telefone tocou exatamente à meia-noite. Ela sabia quem era. Conhecia a respiração ofegante. Ficava a escutá-lo por infindáveis minutos, somente para a consciência permitir-lhe dormir em seguida. O motivo ela nem sabia mais qual fora. Ciúme doentio, agressões verbais, humilhações públicas. Talvez, a culpa fosse do destino, como lhe dizia a cartomante. Morar no interior seria a última tentativa. Precisava se livrar da obsessão dele. Não desse certo, já havia se decidido a resolver a situação, ingerindo pastilhas de veneno para ratos. Saiu de madrugada para não ser vista. Quando entrou na estrada, observou pelo retrovisor que um carro se aproximava, ao mesmo tempo em que o celular tocava insistentemente, mostrando o nome dele no visor. Descontrolada, entrou num posto de gasolina à procura de ajuda. Saiu do carro aos gritos e foi acudida pelos frentistas, que não conseguiam entender o que ela balbuciava. Esclareceram que nunca haviam visto o carro que a perseguia, quando a polícia chegou. No celular, não havia registros de chamadas há treze dias. E treze foi o número de pílulas que ela ingeriu sem que ninguém percebesse enquanto abriam o porta-malas, para nele encontrarem um corpo esfaqueado em estado de decomposição. Entre os ossos e restos de carne apodrecidos da mão do cadáver, havia um celular emitindo sinal de ocupado.


CONTO DE FADAS

A noiva chega correndo. Linda! Olhos de esmeralda!
Tão fina e educada! Branca de Neve!
Impaciente, o noivo a espera.
Nos degraus da igreja, ela perde um sapato branco.
Mancando, chega ao altar.
Não sabe que se transformará na Gata Borralheira de olhos roxos.


MULHER ARANHA

Linda! Como podia ser tão linda? Ele perguntou-se ao vê-la de negro, em um vestido longo e esvoaçante que denunciava um corpo esbelto, seios firmes e convidativos em um decote pouco comportado. As mangas largas não escondiam a cintura marcada. Linda, como podia ser tão linda? Ele ainda perguntava-se quando adentrou sua morada, sem compreender como ela havia se interessado por ele, alguém tão sem predicados espetaculares.
Nervoso, teve medo de não satisfazer aquela rainha. Mas ela teceu uma teia de sedução, com música romântica, velas acesas e penumbra. Despiu-se, lentamente a provocá-lo, e ele esqueceu seus medos, realizando todas as volúpias dela e dele.
Extasiado, olhava para o teto e pensava: “Como pode ser tão linda?”. E divagava sobre o que poderia ela – a linda dama de negro – ter visto nele. Nesse momento, ela ressurgiu da cozinha com vinho branco e um pedaço de bolo de chocolate. Ele mal pôde acreditar. Além de tanta beleza e sedução, estava ali – mulher, esposa e mãe – a alimentá-lo após a exaustão.
O bolo desceu-lhe a garganta, acariciando e envenenando o seu ser. Seus olhos reviravam enquanto balbuciava: como podia ser tão linda...


A VIÚVA

I
A viúva chora desolada.
O coveiro mostra, indiferente, as marcas de unha na tampa do caixão.
A viúva desmaia.

II
No dia seguinte, ela vai a uma escola em Manaus.
Inscreve-se no módulo avançado do Curso de Plantas Tropicais.
E sai gargalhando pelo beco imundo.


AS ROSAS E O VENTO

O universo conspirava para que aquele encontro fosse perfeito. Eles combinaram de se encontrar num parque repleto de flores. Queriam assistir ao pôr do sol, que se despediu do dia em tons vermelhos e alaranjados.

Enquanto caminhavam, a noite silenciou em respeito. O vento, ansioso, dançava sublimemente ao redor do casal  em celebração. Eles sentaram-se lado a lado, com seus corpos tocando-se levemente. As estrelas os observavam, refletindo neles cintilantes luzes. Subitamente, ele roubou-lhe um beijo, e o vento parou ruborizado. Como dois adolescentes, fugiram das platéias e procuraram um lugar discreto, onde pudessem se beijar até que não soubessem mais onde começava um e terminava o outro. Uma estrela cadente desacelerou a passagem para poder observá-los. As rosas voltaram-se para a direção deles. As hortênsias curvaram-se, impressionadas com a intensidade daquele encontro. Arrepiadas, exalaram seu melhor perfume, que o vento soprou, presenteando-os. Deitaram-se na grama, como se ela fosse um ninho coberto por lençóis de cetim. A lua, encabulada, cobriu os olhos com nuvens e deixou o casal se amar... Até que juntos explodiram e transformaram-se em um cometa que rasgou o céu e nunca mais foi visto.


O INEXPLICÁVEL

O jardineiro rega as flores na praça. Crianças brincam. Adolescentes passeiam. Aninha conta sobre o primeiro beijo na noite anterior. As amigas aplaudem. De repente, toca o celular: a mãe ralhando pelo atraso para o jantar. Todas correm. Ela caminha sozinha para casa. Na esquina de casa, um senhor pergunta onde fica a igreja. Aninha reconhece o olhar do jardineiro da praça. Pergunta-se como ele veio parar ali. A cabeça dói. Ela cai em sono profundo. Quando acorda,  grita desesperada:

─ Mamãe, mamãe!

A mãe, acariciando seus cabelos, lhe pede para dormir novamente. Vira para o médico e pergunta:

─ Quando devemos contar que ela foi deflorada?


DEPRESSÃO

Hoje é um daqueles dias que acordei com a alma pequena. A imensidão da noite quase me sufocou. Não fosse o canto das maritacas voejando no jardim, eu teria virado ao lado e dormido o dia todo. Quando acordo, procuro no mundo dos homens o pote de amor até o fim do dia. Mas só encontro solidão. Meus pensamentos ecoam tão alto, no vazio da minha vida, que sou vencida pela desesperança.

Procuro forças para me levantar e sair de casa, apesar da alma pequena. Vou à cidade. Busco algo em algum lugar. Não sei o quê nem onde. Já passei da idade em que sufocamos as mágoas com compras inúteis. Persigo a felicidade alheia, na esperança de ser por ela contaminada. Entro em uma livraria de esquina.

Estou numa viagem além da minha ilha, onde vivo tão sozinha. Busco paz. Decido, então, escolher um livro e me sentar no sofá macio. Esqueço-me do sofrimento por um instante. A poesia acaricia meu coração, levando meus pensamentos a lugares repletos de beleza e magia. Preenche o vazio, que amanheceu em mim, com cores e perfumes em forma de versos. Volto à casa vazia e sinto lágrimas escorrerem pelo meu rosto marcado, mas são por contemplar as estrelas penduradas no varal da noite. Minha alma desencolheu. Adormeço, segurando as mãos de Drummond, sussurrando lindos poemas só para mim.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Silêncio em 2012


O silêncio é uma conquista. Uma das mais difíceis. Falamos demais. Tudo tem que ser exacerbado hoje em dia. Temos demais. Esperamos demais. Sonhamos demais. Criticamos demais.

Eu sempre fui muito falante, e sempre me arrependi de falar demais. Pudera, quando jovem, queria ser advogada. Fiz Direito porque achava que estaria contribuindo para um mundo melhor. Coisa de jovem, que acha que pode mudar as pessoas. Sempre tinha uma opinião formada. Não havia espaço para adaptações. Nada era flexível. E aí veio a vida e começou a me ensinar que nada é tão matemático assim. Que eu não era infalível, logo não podia falar dos outros. Mesmo assim ainda falo de vez em quando. Depois me arrependo, mas não consigo não ter opiniões. E sempre acho que as minhas são as corretas. Difícil discordar de mim mesma. Depois quando percebo que estava errada, fazer o quê?

Consegui um pouco mais de equilíbrio hoje. A maturidade ensina. A vida ensina. Analisar os fatos somente pelo meu ponto de vista é perigoso. Quem me garante que não existe alguma informação importante que eu desconheça? Também sei que a palavra nunca não existe. É apenas uma metáfora. Nada é eterno. Tudo pode acontecer pela primeira vez, mesmo que não tenha acontecido por centenas de anos. “Ele não bebe”, mas pode começar a beber. “Ele não fuma”, mas pode começar a fumar. “Eu sou justa”, mas posso cometer injustiças. A vida pulsa, acontece, é inevitável. Como os animais nas florestas estão sujeitos ao acaso, nossas vidas também podem sofrer fatalidades ou mudanças bruscas. Quando o leão sai para caçar, ele vai devorar uma das gazelas. Aquela gazela poderá ser eu, um dia. Por que não? O que me faria melhor do que as outras?

Temos o livre-arbítrio, temos fatos predeterminados, mas não temos o controle da vida. Da vida dos outros. Se ao atravessar a rua eu olho dos lados e evito ser atropelada, não significa que não seja assaltada e morta na outra. Nesse caso, um atropelamento teria sido melhor.

Somos todos interligados, nossas vidas são afetadas pelas vidas dos outros, e os outros, como nós, são imprevisíveis.  Cada pessoa vive uma vida única. Passa por problemas únicos. Têm uma grau de ética pessoal. Por isso, eu silencio. Somente cada um conhece a sua vida. Eu mal dou conta de entender a minha. O que eu desejo para 2012? Mais silêncio e menos palavras afiadas. Mais amor e menos crítica. Mais ação e menos falação. Que cada um de nós cuide bem do seu jardim, sem compará-lo com o do vizinho.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Fantasmas


Com o passar dos anos,
A minha biografia amarelou
Como meus dentes.
A memória embranqueceu
Como meus cabelos,
O passado escureceu
Como o futuro.

Os filhos cresceram,
Casaram-se e mudaram-se.
O cachorro morreu,
O gato também,
Até o pó se retirou
Para lugares onde abrem as janelas.

A televisão antes me incomodava,
Agora preciso de aparelho para ouvi-la...
Minha única companhia.
Não tenho mais bagunça para organizar,
Não recebo visitas para me estressar,
Não gasto com pizzas nem refrigerantes,
Que sumiam nas mãos dos adolescentes.

Nem o telefone toca...
O despertador sim! Faço questão de saber que horas são,
Apesar de dormir menos horas com o passar dos anos
E estar acordada quando o dia amanhece e o galo acorda o relógio.
Tenho um rádio que fica ligado o dia todo,
As vozes dos radialistas afastam os meus fantasmas,
Que ficam espreitando, esperando
A hora que me deito.

É quando eles se aproximam,
Sentam-se na minha cama,
Seguram a minha mão e choram comigo.

O nome deles?
Arrependimento, fracasso e solidão.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Espírito natalino... Mesmo?

Sabem o que me entristece nessa época do ano? Ouvir frases do tipo: "Para quem não tem nada, ISSO está bom demais". Que generosidade é essa? Presentear crianças carentes com bolas de dez reais ou roupas de segunda qualidade ajuda mesmo? Nossos filhos têm armários cheios de brinquedos e roupas de qualidade. Para eles, nos damos aquela LEMBRANCINHA qualquer? Crianças carentes usam muito mais que nossos filhos, e depois passam a roupa/calçado/brinquedo para o irmão ou primo. Eles, sim, precisam de artigos de boa qualidade. Uma bola de cinco reais e chinelos de tiras eles já têm! Não penso em grifes. Penso em qualidade. Seu filho não usa um tênis de borracha dura, porque o menino de rua pode ter os pés machucados? Aquela camiseta que fura depois de duas lavadas, vc daria para seus sobrinhos? Uma menina que sonha com a tal boneca, que abre olhos, abre boca, vem de vestido bonito e ganha uma boneca dura, sem movimentos, de olhos pintados ficará contentinha, e vc se sentirá generoso/a porque fez uma doação, enquanto na sua casa as crianças abrem caixas coloridas com brinquedos que custam uma pequena fortuna? Isso é generosidade, espírito natalino? Caridade é dar ao próximo algo que você tira de você, não migalhas que iriam para o lixo ou roupas que não usa mais, porque você tem mais do que precisa. Comentar que gastou cinquenta reais com uma cesta de natal não abre os portões do paraíso para ninguém. Aliás, se comentar, mesmo que gaste cinco milhões não será chave de entrada ao piso superior. Quem comenta é político, o bom cristão não faz campanha eleitoral a cada gesto, não tira foto, não publica no jornal. A hipocrisia natalina me faz mal. Ninguém precisa esperar uma data certa para ajudar quem precisa. Irmãos carentes não comem só dia 25 de dezembro. Eles comem, sentem fome, sede, frio, medo, se decepcionam, sonham, sofrem o ano inteiro.

sábado, 10 de dezembro de 2011

A hora de dizer adeus

Há momentos na vida em que é hora de ir embora. Quando visitamos alguém que começa a bocejar; quando, no hospital, a enfermeira entra para dar banho no paciente; quando o vizinho começa a gritar palavrões... Momentos em que, se não sairmos, seremos inoportunos e criaremos um desgaste desnecessário. 

Há momentos na vida em que é hora de ir embora, porque não estamos mais presentes fisicamente, mesmo que sentados no mesmo sofá. Em uma casa, há momentos em que temos que ir embora do cômodo e deixar a pessoa discutindo sozinha. No trabalho, pode chegar a hora de procurar outro emprego e deixar a carta de adeusmissão. Na escola, chega a hora, talvez, de dizer adeus a um curso e seguir outro. Na vida, há momentos de despedir-se de um caminho e reiniciar outro, sem olhar para trás.

Às vezes,  temos que dizer adeus ao dia  cinzento para reencontrarmos esperanças no amanhã. Temos que dizer adeus à noite de pesadelos para reencontrarmos os sonhos no amanhã. Nos relacionamentos, há momentos de dizermos adeus porque fazemos mais mal que bem. Nas ilusões, há momentos de nos afastarmos para enxergar a realidade. Na dor, há momentos de sofrê-la calado, para que o outro sofra um pouco menos.

Há também momentos na vida de dizermos não, de recusarmos convites, pois sabemos que são ocos. Há momentos na vida em que temos que preencher nossos vazios somente com nossos vazios, temos que permitir que o outro diga olá para alguém que possa oferecer mais que ausências e presenças vazias.

Há momentos na vida em que temos que dizer adeus como o sol se despede do dia, enfraquecendo as cores até sobrar apenas a escuridão. Há momentos na vida em que palavras não precisam ser ditas, nem mesmo “adeus”, pois já a escutamos em nossos corações. Há momentos na vida em que temos que dar a outra face, ouvir adeus duas vezes. Há momentos na vida em que é hora de dizer amém.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Vice-Versa de dezembro de 2011 - AEILIJ


Amigos!

Participam deste Vive-Versa  Simone Pedersen e Regina Sormani, escritoras associadas da regional paulista da AEILIJ

Simone Pedersen

Perguntas da Regina

1 - Simone, seu livro de poesias infantis “POETANDO E DESENHANDO", editado pela Komedi e ricamente ilustrado pelo Paulo Branco tem os animais como tema. Fale um pouco sobre o assunto.

R - Esse projeto surgiu de uma conversa com o Paulo. Ele leciona há trinta anos e queria fazer um livro para ensinar as crianças a desenhar, mas que tivesse um texto leve. Eu mostrei um conjunto de poemas sobre animais e a Komedi selecionou alguns. Essa edição já está esgotada e será lançado por outra editora agora em janeiro, para atender várias escolas que o estão adotando. É um livro que eu uso muito quando visito escolas porque rapidamente as crianças se interessam e interagem, contando dos seus animaizinhos e ouvindo as historinhas dos personagens que depois elas aprendem a desenhar.

2 - Você é formada em Direito e também se declara apaixonada por Monteiro Lobato desde criança. Em que momento a literatura começou a tomar conta da sua vida?

R - Quando eu era criança, havia apenas uma biblioteca na minha cidade, São Caetano do Sul, na Grande São Paulo. Na biblioteca, havia apenas uma estante pequena com livros infantis. Foi ali que eu conheci a obra do Monteiro Lobato aos nove anos. Formada, mudei para a Dinamarca onde me casei, e lia muito em dinamarquês e inglês para aprender os idiomas. Depois morei na Itália por dois anos. Naquela época não havia internet. Quando eu vinha ao Brasil comprava dezenas de livros. Mas, foi só em meados de 2008, quando retornei definitivamente, que comecei escrever de forma sistemática e participar de concursos. A Literatura sempre fez parte da minha vida - independente do idioma-.Foi a minha companhia, principalmente, nos onze anos que morei longe da família.

3 - O que representa para você a coletânea FRAGMENTOS E ESTILHAÇOS?

R - Nesse livro eu publiquei contos, crônicas e poesias que obtiveram alguma premiação em concurso literário. É o meu primeiro livro para adultos,  seguido de “Colcha de retalhos” somente com poemas: um registro do início da minha vivência literária. Em breve lanço o “O tango da vida” com contos dramáticos e em abril o “Fronteiras” somente com crônicas.

4 -  Simone, você morou no exterior, viajou muito e atualmente escreve para um jornal, revistas literárias e blogs. Além disso, participa de concursos, é delegada da UBT de Vinhedo e... é mãe do Dennis e da  Natalie. Você se considera uma pessoa super organizada ou vai enfrentando os desafios à medida que eles vão surgindo?
Só quero acrescentar que foi muito prazeroso participar deste Vice-Versa com você.  Obrigada e um beijo, minha querida!

R - Risos. Eu era muito organizada. Fui secretária executiva por muitos anos. Hoje dou mais importância ao momento. Entre organizar papéis e escrever um texto, prefiro escrever um texto. Por outro lado, se houver muita bagunça eu não consigo me concentrar, primeiro arrumo tudo. O difícil é organizar a agenda. Vivo com listas na bolsa: reuniões, contas, compras, concursos, horários dos filhos... Faço uma por dia. Eu acredito que me ajuda muito o fato de ser prática. Faço tudo online ou por fone, desde pagar contas até compras no Brasil e exterior, raramente vou ao shopping center. Tenho quem me ajude em casa, transporte escolar, motorista de táxi de confiança para meus filhos em caso de necessidade, médico, veterinária, tudo “entre amigos”.  Talvez por morar no interior seja mais fácil ter esses contatos. Por outro lado, minha família mora a 100 km daqui, tenho que ter tudo sob controle. E sobram as madrugadas para escrever!

O prazer foi todo meu! É muito bom termos um blog onde podemos conhecer melhor nossos companheiros. Obrigada e um beijo no coração!

Regina Sormani

Perguntas de Simone

1 - Regina, você respira literatura há muito tempo. Como surgiu o projeto Teatro nas Escolas e Bibliotecas? Quais atividades são desenvolvidas nele?

R – O projeto Teatro nas Escolas e Bibliotecas surgiu quando lancei o livro interativo O OVO AZUL DA GALINHA ROSA pela Paulus  e a International Paper, na época,  se interessou em patrocinar o teatro de bonecos. O sucesso da galinha Rosa, da Perua e do ovo Azul foi imediato. Durante vários anos, o teatro percorreu muitas escolas e bibliotecas da capital e interior, sempre contando com a participação de ótimos atores bonequeiros e contadores de história.  O primeiro a surgir no palquinho era o boneco Chamequinho que cantava o jingle que criei especialmente para ele. O patrocínio acabou, mas, o teatrinho continua muito solicitado e hoje em dia, apresentamos muitas outras histórias. Os BICHINHOS DO ZOOLÓGICO  peça adaptada do livro das Paulinas, é uma das mais pedidas pelas escolas.

2 - Você e o Marchi têm uma sintonia rara. Como foi a criação do boneco Chamequinho? É esse o seu projeto preferido, desenvolvido em parceria com ele?

R - A International Paper havia solicitado ao Marchi que criasse um boneco que realmente lembrasse uma folha de papel e que agradasse o público-alvo: as crianças. Então, o Marchi criou o Chamequinho parecendo um origami e que foi elaborado em aerografia. Os pequeninos adoraram!! A partir daí, o Marchi construiu um lindo boneco que  movimentava as mãos e  abria a boca.  Gravamos o jingle e o Chamequinho passou a ser o garoto propaganda da Internacional Paper, pois falava e cantava, para alegria da criançada. Ficou perfeito.
Posso afirmar, com certeza que o Chamequinho foi um dos melhores projetos que conseguimos concretizar juntos.

3 - Tenho acompanhado o Trovadores.com, publicado na revista Primavera em Sampa, e aproveito para parabenizá-la! Qual foi a reação dos leitores? Quais outros temas a revista aborda?

R - O Trovadores.com – nome criado pela Angela Leite – está sendo muito elogiado, é verdade. O número de trovadores aumenta a cada dia e aproveito o espaço para convidar a todos que gostem de trovas : – Venham trovar conosco!!!
A revista publica contos, crônicas, poesia, arte, música de vários gêneros, divulga livros e lançamentos e a cada mês homenageia um autor.

4 - Os jovens estão sedentos de boa literatura. O que você pode nos adiantar a respeito do livro que está escrevendo com o Marciano Vasques para esse público?

R - Simone, o livro está pronto, até que enfim. É um thriller, escrito a quatro mãos  e duas cabeças... rsrs... suspense e mistério para o público juvenil, ambientado aqui, em São Paulo. Deverá ser lançado em 2012, assim esperamos.

Fonte: http://aeilijpaulista.blogspot.com.br/2011/12/viceversa-de-dezembro-de-2011.html

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Décimo-terceiro mês


UM FELIZ DEZEMBRO, AMIGOS! 
Chegou a hora de limpar as gavetas, encontrar as toalhas de praia, participar de dois eventos de final de ano por dia, entregar projetos, passear com as crianças, comer em bons restaurantes pela metade do preço - salve o prato do dia - , escrever a carta para o Papai Noel, mandar mensagens coloridas, comprar presentes e o mais importante de tudo, encontrar aquela pessoa que você ama e que está esperando sua visita desde janeiro... O ano precisava ter treze meses!

Fábula: O aniversário da cegonha